UM PSD ÀS ARRECUAS
fmadrinha@expresso.pt
Santana andou por aí, mas a verdade é que já lidera a bancada com plena aceitação do partido
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Santana andou por aí, mas a verdade é que já lidera a bancada com plena aceitação do partido
A única via que resta ao PSD para tentar reencontrar o caminho do poder é beber o cálice até ao fim. E esclarecer, de uma vez por todas, se quer continuar a ser um partido equilibrado, meio social-democrata, meio liberal, interclassista e pragmático, ou se vai mergulhar definitivamente na vertigem por que foi atingido nos últimos anos e converter-se noutra coisa qualquer. Por exemplo, num partido de classe, azedo e construído à imagem do PCP de outros tempos, que abomina as chamadas elites e se afirma contra elas, fechado sobre si próprio e falando em nome de “bases” que não representam senão os interesses e os pequenos poderes do próprio aparelho partidário.
Para se fazer esse esclarecimento, que não interessa apenas aos militantes - o país também precisa de saber com o que conta -, é importante que todas as facções e ambições vão às ‘directas’, começando pela facção que comandou nos últimos meses. Daí que, perante a desistência de Menezes, Santana seja uma opção lógica.
Caso ela se confirme, ficaremos a saber até que ponto o coração do PSD ainda bate pelo menino guerreiro. À primeira vista, a vitória é uma hipótese absurda: depois de tantas peripécias, vai o PSD escolher para candidato a primeiro-ministro alguém que os eleitores derrotaram clamorosamente nas últimas eleições? Mas a verdade é que, depois de ter andado por aí, Santana já chegou a líder parlamentar com plena aceitação do partido e os apoios de Menezes e Jardim não são irrelevantes no aparelho social-democrata. Por outro lado, Manuela Ferreira Leite não tem a aura sebastianista que se supunha e nada impede que Passos Coelho surpreenda, apesar da polarização nos candidatos mais fortes.
Eis como as ‘directas’ não são favas contadas para a ex-ministra das Finanças e podem vir a revelar-nos um PSD que, parecendo que avança, só anda às arrecuas.
Os ‘donos’ do 25 de Abril
O 25 de Abril aprovaria o Tratado de Lisboa? Eis a magna questão que se levantou à esquerda durante o debate parlamentar para a ratificação do documento que vai reger os destinos da Europa a partir de 1 de Janeiro de 2009. Sócrates pensa que sim e disse-o logo à abrir; o PCP e o Bloco de Esquerda juram que não, tendo Louçã considerado até uma espécie de crime de lesa-25 Abril a associação do tratado à data libertadora.
No entanto, todos sabemos que a esquerda à esquerda do PS apenas finge não compreender o óbvio: depois do 25 de Abril, que abriu o caminho à democracia, e do 25 de Novembro, que acabou com os delírios esquerdistas nos quartéis, o pedido de adesão à CEE foi a opção e o momento mais importante da história democrática portuguesa. Porquê? Pelas razões que o ministro Luís Amado indicou com toda a clareza e frontalidade: trata-se do ponto de não retorno no caminho para a democracia e, consequentemente, da morte dos projectos e aventuras totalitárias.
É por isso que a extrema-esquerda e o PCP em particular encontrarão sempre defeitos na Europa, nas suas políticas, instituições ou tratados - porque a integração europeia de Portugal foi a expressão mais clamorosa da sua própria derrota. E, uma vez que se acham donos do 25 de Abril, arrogam-se o direito que não têm de o ajustar à medida das suas queixas e conveniências políticas.
Ora. não há dúvida de que, só por si, o pedido de adesão à CEE, apresentado por Mário Soares em 1977, foi uma cláusula de salvaguarda da liberdade que o 25 de Abril prometeu. E os milhões vindos de Bruxelas, que ainda hoje continuam a chegar a Portugal, foram e são o mais prestimoso apoio à concretização de um dos três ‘d’ prometidos há exactamente 34 anos: o ‘d’ de desenvolvimento.
Já se vê que não pode haver relação mais estreita entre o 25 de Abril e a Europa. E não será pelo facto de o tratado não ter sido referendado como devia, que o PCP e o Bloco passam a ter razão. Claro que o ‘seu’ 25 de Abril não aprovaria o tratado. Mas, felizmente e ao contrário do que eles pretendem, o 25 de Abril não tem donos.
O cais das colunas
Corre na Internet um abaixo-assinado para uma petição à Assembleia da República recomendando ao Governo a imediata reposição do Cais das Colunas e a requalificação do Terreiro do Paço. Quase cinco meses após ter sido inaugurada a nova estação do Metropolitano e 11 anos depois de desmantelado o cais, a mais bela praça de Lisboa - e, sem dúvida, uma das mais belas do mundo - continua incompleta. Não há sinal de obras para devolver à cidade e ao país um dos seus emblemas mais marcantes.
O Estado, através de uma empresa pública, comporta-se como qualquer empreiteiro ‘pato bravo’, daqueles que, com a cumplicidade de autarquias negligentes ou menos escrupulosas, levantam e vendem apartamentos à pressa, esquecendo-se, às vezes para sempre, dos arruamentos necessários, dos jardins e parques que se comprometeram a criar.Neste caso, nem se trata de construir o que quer que seja, mas apenas de repor, no lugar que lhe pertence há mais de dois séculos, um monumento querido dos lisboetas e sem o qual a praça e a cidade ficam amputadas.
Que os cidadãos tenham de pedir ao Parlamento que interceda para que o Estado cumpra uma obrigação tão elementar, eis o que não deixa de ser absolutamente extraordinário.
Publicação de
João Brito Sousa
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