DA IMPRENSA/ EXPRESSO

VELHOS AOS 50 ANOS
Por Fernando Madrinha


Houve tempos em que a idade, com o acréscimo de experiência, conhecimento e sabedoria que lhe está associado, era valorizada pela sociedade. Hoje, os velhos são encarados como um peso e um problema, a vários níveis e a várias dimensões, quer por parte das famílias, quer do Estado, quer das empresas.

As famílias, em especial as desenraizadas, que tiveram de buscar meios de subsistência fora e por vezes muito longe das suas terras de origem, não sabem o que fazer com os ascendentes que lá ficaram, ou, quando eles também vieram para os grandes centros urbanos, não têm as condições mínimas para lhes darem, em casa, a atenção e o apoio de que necessitam. Isto para não falar das famílias desestruturadas, cada vez em maior número, que, por natureza, mais dificilmente ainda respondem a essas necessidades.

O Estado, que na Europa inventou um generoso sistema para assegurar uma velhice digna a quem trabalhou toda a vida, vê-se agora em palpos de aranha para cumprir os seus compromissos. Por muitas e diversas razões, sendo a mais importante o facto de a taxa de natalidade ter baixado de tal forma que a contribuição da população activa se foi tornando insuficiente para prover as reformas dos mais velhos.

Paradoxalmente, porém, esse mesmo Estado que enfrenta a ameaça de falência irremediável da segurança social, assume compromissos a que não está obrigado, como seja o de ajudar as empresas a renovarem os seus quadros através de reformas antecipadas. Quer dizer, à medida que aumenta a esperança de vida dos cidadãos, o Estado, em vez de retardar a sua entrada na reforma, ou ao mesmo tempo que fixa esse objectivo na lei, assume despesas acrescidas para afastar da vida activa pessoas em perfeitas condições de trabalhar. Esta gestão absurda pode levar ao colapso se não for invertida e penalizará fortemente a própria reforma da segurança social que o actual Governo teve o bom senso e a coragem de aprovar há um ano.

Contas à parte, porém, está por demonstrar que o apoio do Estado à renovação de quadros das empresas, com recurso à reforma antecipada, seja justo e útil, do ponto de vista social, e mesmo correcto do ponto de vista económico. Ainda esta semana o Presidente da República se questionou no Fórum Gulbenkian Saúde, sobre a "obsessão" das empresas com o contínuo rejuvenescimento dos seus trabalhadores. E exprimiu dúvidas sobre se tal "obsessão" se traduzirá em ganhos efectivos de eficiência, ou contribuirá, ao invés, para um "défice de identidade, de cultura organizacional e, mesmo, de rentabilidade".

Além de Presidente, Cavaco é economista. Ele sabe que a lógica dominante nestes processos de emagrecimento e rejuvenescimento mais não visa, na esmagadora maioria dos casos, do que substituir trabalhadores mais velhos e bem pagos por jovens inexperientes e mal pagos. Isto quando não é usada para afastar funcionários incómodos por razões que nada têm a ver com a sua competência e utilidade na empresa.

Nuns casos ou noutros, a poupança imediata assim gerada tem um preço elevado a prazo. Muitas empresas já o descobriram por esse mundo fora, a ponto de terem mudado radicalmente de política. E, exactamente pelas razões apontadas pelo Presidente, voltaram a contratar muitos daqueles que tinham declarado velhos e inúteis aos 50 anos e passaram a retardar o mais possível a sua saída. Por vezes - e com o seu acordo - muito para lá da idade legal da reforma.

Como já se escreveu aqui mais de uma vez, também se avalia o grau de progresso de uma sociedade pela forma como ela trata os seus velhos. Se, além de os tratar mal, como sucede com tanta frequência, essa sociedade ainda se aplica a declará-los velhos antes de tempo, conferindo-lhes o estatuto de inúteis quando eles estão em perfeitas condições de dar o seu contributo, então a sociedade portuguesa desumaniza-se cada vez mais. E regride em vez de progredir.

O MEU COMENTÁRIO

O problema está aí. Que fazer com os velhos ou o que fazer aos velhos? Um tio meu disse-me uma vez que os filhos hoje andam com os cães ao colo e põem os pais (os velhos) no Lar.

Vi uma vez um filme, em que a grande preocupação que o actor tinha, um polícia, era amealhar dinheiro para a sua boa reforma.

No mundo empresarial substituir um operário velho mas experiente por um novo mas analfabeto, é prejudicial

Mas cada caso é um caso.

Recolha de
João brito Sousa