sábado, 19 de abril de 2008

ANTES DA QUEDA DE MENEZES


A QUALIDADE DAS COSCUVILHEIRAS.

A incoerência paga-se e as sondagens não mentem: Menezes afunda-se e leva com ele o PSD

Na semana passada, o PSD resolveu interpelar o Governo no Parlamento sobre a qualidade da democracia, matéria sobre a qual têm surgido, aqui e ali, acções pouco dignificantes para os pergaminhos democráticos que os socialistas tanto gostam de exibir. Basta lembrar o caso Charrua, as visitas da PSP a sindicatos antes de acções de contestação ou a obsessiva tendência deste Executivo para se imiscuir na vida empresarial (de que os casos do BCP e da OPA da Sonae sobre a PT são os exemplos-limite) para se perceber que o tema até merece debate. Mais: do ponto de vista político, este é um assunto particularmente sensível ao eleitorado potencial do PS e tem provocado clivagens entre a ala esquerda e a ortodoxia dominante no partido.

Mas o PSD não soube aproveitar a ocasião. E não soube porque a intenção foi apenas aproveitar-se de forma oportunista do recém-conhecido relatório da Entidade Reguladora da Comunicação Social para se vitimizar e reivindicar um tratamento mais equitativo por parte dos media do Estado.

Ou seja, a questão essencial da qualidade da democracia, enquanto garantia de vivência livre, justa e digna dos direitos e deveres por parte dos cidadãos, não passou de uma bela tirada para enganar papalvos. O que realmente faz correr a direcção do PSD é a divisão da coutada temporal dos «tempos de antena» entre os partidos do bloco central, na mesma linha, aliás, da sugestão há meses feita por Menezes a propósito dos comentadores políticos nas televisões. Um comentador para mim, um comentador para tiŠ Qualquer dúvida sobre as preocupações do líder social-democrata quanto à «qualidade da democracia» seria, de resto, desfeita no dia seguinte a esta interpelação. Bastou ouvi-lo, cândido e compreensivo, a justificar, na Madeira, a proibição da integral cobertura jornalística do congresso do PSD regional. Tanta incoerência paga-se e as sondagens não mentem: Menezes afunda-se e leva com ele o partido. Na altura mais complicada para o Governo Sócrates, toda a oposição sobeŠ menos o PSD, segundo a última sondagem do Expresso.

O que se compreende, ao saber-se o que tem para oferecer aos eleitores. Quando a vida é difícil e o desemprego alastra; quando nem a muitos dos que têm trabalho chega o dinheiro para pagar despesas básicas; quando tantos dos que clamam por justiça não têm horizonte para a ver aplicar; quando a insegurança saiu dos subúrbios problemáticos e se transferiu, de armas e bagagens, para a porta de cada um de nós, qual é a bandeira de Menezes? Nada mais nada menos do que uma nova Constituição. Eis o sofisma de quem não tem nada para dizer.

Enquanto isso, e como se do desfecho do caso dependesse a salvação da pátria, alguns dos seus acólitos entretêm-se com uma daquelas tricas que costumam aquecer a conversa das comadres: o facto de a jornalista Fernanda Câncio ir apresentar um programa de que é co-autora, na RTP2. Câncio é profissional há 22 anos, já trabalhou em televisão e até escreveu um livro sobre o tema alvo do programa, mas nada disso conta para as coscuvilheiras do PSD. O picante é que é namorada de Sócrates, percebem? E quer esta gente governar Portugal.

Recolha de
João brito SOUSA

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