O ESPÍRITO DAS LEIS.
(retirado do blogue de FJV http://aorigemdasespecies.blogspot.com/)
O que pede o Ministério da Educação? Que se cumpra a lei sobre “a avaliação”. Quem fez a lei? O governo e a sua maioria. A quem se dirige a lei? Aos professores. Os professores concordam com a lei? Não. É possível aplicar uma lei quando aqueles a quem ela se dirige não querem a sua aplicação? Não.
Este imbróglio diz respeito a todas as leis, ou seja, ao “espírito das leis”, de que falava Montesquieu.
Há quem pense que basta redigir uma lei para que a lei se cumpra; seria fácil, a um punhado de “pessoas esclarecidas”, passar um ano a produzir leis e três anos a mandar executá-las, fechando um ciclo eleitoral. Infelizmente, as leis dirigem-se a pessoas concretas que vivem em condições concretas, nem sempre as desejáveis. As “pessoas esclarecidas” às vezes não vêem isto.
ESCLARECIMENTO
retirado do http:// apcgorjeios.blogspot.com
Num post do seu blog sobre a lei e os professores, O Espírito das Leis, Francisco José Viegas descobriu a enormidade da existência de "pessoas concretas". Segundo FJV, as leis serão feitas por um punhado de "pessoas esclarecidas" que mandam cumpri-las sem mais, mas como os destinatários são pessoas concretas que não aceitam a lei, logo a lei não pode ser aplicada.Assim, duma penada FJV dividiu os portugueses em "pessoas esclarecidas" e "pessoas concretas".
As pessoas esclarecidas percebe-se quem sejam: certamente pessoas como FJV, poeta, escritor, comentador de livros, colaborador de editoras e televisão, enfim um intelectualmente entendido.
E quem são as pessoas concretas? Pela análise de FJV as esclarecidas não são pessoas concretas e dado que os professores são concretas, logo não são esclarecidas.
MEU COMENTÁRIO
Os dois últimos parágrafos do apcgorgeios conduziu os professores para a zona dos não esclarecidos. Mas isso é uma conclusão aparente.
Vejamos outra hipótese:
Se FJV dissesse
"... seria fácil a um punhado de "pessoas burras" passar um ano a produzir leis e três anos depois mandar executa-las, fechando um ciclo eleitoral. Infelizmente as leis dirigem-se a pessoas concretas que vivem em condições concretas ... as pessoas esclarecidas às vezs não vêm isso....
a conclusão do apcgorjeios seria:
Pela anális e de FJV, as "pessoas burras" não são pessoas concretas e dado que os professores são pessoas concretas logo não são burros
É isto?
Publicação de
JBS
Amigo João,
ResponderEliminarSó que FJV disse o que disse e não o que tu dizes ou achas que ele devia ter dito. A crítica a um texto deve incidir sobre o que o texto diz, formal e substantivamente, e não sobre um processo de intenções. Claro que a tua conclusão estará certa para a tua premissa mas não para a dele. Contudo do texto do FJV não é possível tirar a tua conclusão, o que revela que os nossos escritores são mesmo pouco pensadores; são escrevinhadores habilidosos mas de fraca consistência filosófica.
Contudo a parvoice maior de FJV é o achado da formula "pessoas concretas". Podes-me indicar quais são as "pessoas concretas" e as "não concretas"? Podes concretizar, por côr, por raça, por cultura, por tradição, por costumes, ou outro modo, quais são umas e quais são outras?
Outra questão é a invocação do "argumento de autoridade" de Montesquieu. Não conheço a fundo este autor para ter certezas, mas duvido que o "espírito da lei" em Montesquieu possa ser invocado so sentido que FJV lhe quiz dar no seu texto. Este autor, no seguimento de Montaigne e Pascal, são alunos defensores do espírito da escola platónica. Ora a escola platónica e todo o pensamento helenístico posterior são acérrimos defensores do primado da lei. Platão, no Górgias, pela boca de Sócrates afirma: " é preferível sofrer uma injustiça do que cometê-la". E é preciso não esquecer que estes princípios eram tão sentidamente vividos em defesa da "pólis" que os espartamos morreram nas Termópilas em defesa da lei da cidade e que o próprio Sócrates preferiu morrer pela cicuta a fugir à lei da cidade.
Mesmo sem estudar o assunto a fundo tudo me diz que FJV "torceu" o pensamento de Montesquieu para dar autoridade ao seu texto facilitista e de fraco pensamento próprio.
Adolfo Contreiras