domingo, 4 de janeiro de 2009

IMPRENSA

EXÉRCITO DE ISRAEL EM GAZA
FOLHA DE São Paulo

Iniciada após anoitecer, ação busca destruir infraestrutura militar do Hamas; pelo menos 30 militantes foram mortos
As Forças Armadas de Israel iniciaram ontem uma ofensiva por terra contra o grupo palestino Hamas na Faixa de Gaza, matando ao menos 30 militantes (não havia confirmação de baixas entre soldados israelenses), uma semana após o início dos bombardeios aéreos que já deixaram mais de 460 palestinos e 4 civis israelenses mortos. A invasão começou logo após anoitecer, quando terminou o shabat (o dia semanal de descanso judaico), com os soldados avançando 2 quilômetros dentro de Gaza. A operação terrestre já vinha sendo antecipada há alguns dias, com milhares de militares israelenses posicionados na fronteira com o território palestino. A invasão provocou reações da comunidade internacional.
O Conselho de Segurança da ONU marcou uma reunião de emergência que deveria entrar na madrugada.Colunas de tanques e veículos militares israelenses, com o apoio de helicópteros, atravessaram a fronteira em quatro direções no norte da Faixa de Gaza, perto da cidade de Beit Lahyia. Pouco após a invasão, soldados israelenses e militantes do Hamas trocaram tiros. Um porta-voz militar de Israel disse que "dezenas de palestinos" morreram na ação terrestre. Soldados israelenses também teriam sido mortos, segundo uma autoridade do grupo palestino, mas a informação não foi confirmada. Já estava de noite quando a ação começou e era possível ver explosões. Autoridades de segurança de Israel afirmaram ontem que não têm o objetivo de reocupar o território palestino, de onde as forças israelenses se retiraram unilateralmente em 2005.
No início da noite, "milhares" de reservistas israelenses foram convocados para a campanha contra o Hamas. O ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, disse que a ofensiva militar "não será fácil e tampouco terá pouca duração", podendo se prolongar por dias."O objetivo é destruir a infraestrutura terrorista do Hamas", disse Avital Leibovitch, porta-voz militar, para acrescentar que áreas usadas pelo grupo palestino para lançar foguetes contra o território israelense serão tomadas pelas forças de Israel. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores israelense, Marc Regev, disse que Israel será vencedor quando "o Hamas não lançar mais foguetes contra o sul do país. Não queremos uma mudança de regime, por mais que não gostemos do Hamas. Isso é um problema palestino."Na Faixa de Gaza, antes mesmo do início da ofensiva terrestre, a crise humanitária se agravava. Hospitais sofrem com escassez de remédios e outros suprimentos para atender os feridos.
Falta gás para o aquecimento das casas no inverno. Há pouca água potável e o fornecimento de energia elétrica para os 1,5 milhão de habitantes foi interrompido diversas vezes ao longo do dia. Antes da invasão, Israel havia lançado folhetos alertando os moradores do território palestino a permanecerem em suas casas. Há poucos jornalistas dentro da Faixa de Gaza. Israel e o Egito, que têm fronteiras com o território, não permitem que repórteres atravessem para o outro lado alegando questões de segurança.Ismail Radwan, uma das principais autoridades do Hamas, deu um recado para os israelenses dizendo que "Gaza não será um piquenique, Gaza será o seu cemitério".
O grupo fundamentalista islâmico dispõe de pelo menos 25 mil homens e minas para atacar os invasores. Pelo rádio, em hebraico, o grupo informou estar preparando uma surpresa:"Vocês (soldados de Israel) serão sequestrados, mortos ou sofrerão danos psicológicos por causa dos horrores que mostraremos a vocês." Horas antes da ofensiva, o grupo lançou 29 foguetes contra o território de Israel, sem deixar vítimas.ATAQUE À MESQUITAAo todo, Israel realizou ontem cerca de 40 operações aéreas contra Gaza. Uma mesquita foi atingida. Pelo menos 16 pessoas morreram e mais de 60 ficaram feridas, 24 em estado grave, segundo médicos palestinos.Israel iniciou o bombardeio no dia 27 afirmando que o Hamas, ao lançar foguetes contra o sul israelense, violou cessar-fogo vigente há seis meses.
O grupo nega e diz que os israelenses desrespeitaram a trégua antes ao matar seis militantes da organização em novembro e ao impor um bloqueio ao território. Israel controla o espaço aéreo e marítimo de Gaza.De acordo com especialistas palestinos, se Israel pretendia desmoralizar os palestinos com a atual ofensiva à Gaza, deveria começar a repensar a sua estratégia. "Os ataques em Gaza transformaram os membros do Hamas em heróis da causa palestina", disse ao Estado o cientista político palestino Issam Nassar, da Universidade de Illinois. "Essa situação deve piorar com uma ofensiva por terra - não só porque as vítimas civis devem aumentar, mas também porque o Hamas apresentará como troféus as baixas israelenses."Mais otimista, Bassem Eid, diretor do Grupo Palestino de Monitoramento dos Direitos Humanos, que vive em Jericó, na Cisjordânia, tem uma opinião pouco usual entre seus conterrâneos. Para ele, uma ofensiva terrestre em Gaza pode até abrir o caminho para a paz se for rápida e bem conduzida e se Israel conseguir "compensar" os palestinos, criando uma realidade que permita o desenvolvimento da região após a derrocada do Hamas.
recolha de
JOÃO BRITO SOUSA
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