O DIREITO AO SUCESSO
por Áurea Sampaio
Maria de Lurdes Rodrigues entrou no Ministério da Educação (ME) como um autêntico furacão. A ideia de partida parecia ser a de elevar a exigência face a professores e a alunos e pôr ordem numa máquina asfixiante que, ao longo dos anos, mais não fez do que triturar a competência, promover a mediocridade e lançar o ensino num patamar miserável. Para o conseguir começou por fazer uma série de reformas que pareciam ir no caminho certo.
Fechar estabelecimentos com um número de alunos insuficiente, garantir maior presença dos professores nas escolas, introduzir as aulas de substituição, alargar o ensino do inglês, avançar com o estatuto do aluno e com a avaliação dos professores, etc., etc. Ao longo deste trajecto, houve imensa contestação. Docentes e discentes foram-se revezando em ataques à ministra, que culminaram na imensa manifestação dos professores, em Lisboa, em Março deste ano.
A quase unanimidade que inicialmente concitava junto da opinião pública a actuação da governante foi sendo beliscada aqui e ali, ora porque Lurdes Rodrigues parecia demasiado inflexível ora porque acabava por ceder ao peso do ruído da rua. Habilmente, os sindicatos foram instalando a ideia de que, por detrás dos ataques aos professores, se escondia, afinal, um único
objectivo: trabalhar apenas para as estatísticas. Custa a acreditar, mas os últimos acontecimentos são perturbadores. Além da reconhecida facilidade dos exames deste ano, soube- -se que altos funcionários do ME deram instruções para excluir da correcção das provas os professores «que se afastam da média». Razão: os alunos «têm direito a ter sucesso».
objectivo: trabalhar apenas para as estatísticas. Custa a acreditar, mas os últimos acontecimentos são perturbadores. Além da reconhecida facilidade dos exames deste ano, soube- -se que altos funcionários do ME deram instruções para excluir da correcção das provas os professores «que se afastam da média». Razão: os alunos «têm direito a ter sucesso».
Se houver bodo aos pobres nos exames, a ministra dará bons trunfos para Sócrates apresentar na campanha eleitoral do próximo ano. Mas, antes disso, em Dezembro, a OCDE, através do PISA, vai dizer como está realmente o nosso ensino. Uma espécie de prova dos nove a estes métodos.
Caro Miguel Sousa Tavares: só mesmo de si essa ideia quixotesca de «dar o peito às balas» dos guardiães do politicamente correcto sobre a causa feminista. Mas não será preciso tanto. É certo que, hoje em dia, ainda há uma ou outra extremista impenitente que vocifera contra o «homem opressor» tal qual o velho Hobbes descrevia o homo homini lupus, mas são vozes isoladas, marginais. Nos tempos que correm, felizmente, há outras «armas» que permitem às mulheres irem conquistando, no terreno, o seu espaço de igualdade em direitos e deveres. Falo da educação, da cultura, da sua inserção no mundo do trabalho. Portanto, de mim, não conte nem com uma setinha de plástico para o ajudar a exibir a sua lendária coragem. Até porque concordo com quase tudo o que defende, na sua última crónica no Expresso. Questão das quotas incluída, contra a qual escrevi há muito, aqui mesmo na VISÃO, quando ainda era moda defendê-la.
Agora, considero intolerável qualquer equívoco sobre a necessidade de punir a violência, venha ela de onde vier, exercida sobre quem quer que seja homens ou mulheres. Finalmente, caro Miguel, deixe-me dizer-lhe, antes de lhe agradecer duas ou três linhas amáveis que me dirigiu, que a VISÃO é mesmo uma revista de referência. Sem aspas.
Publicção de
João Brito Sousa
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