quarta-feira, 18 de junho de 2008

UMA FRASE PARA UM TEXTO


ACORDAR MAIS CEDO


De “A Cara da Gente” de BB, retiro a frase:- “Começou a aperceber que acordar mais cedo faz o dia maior”.

A frase entrou-me pela alma e alojou-se no departamento da nostalgia. Veio-me à mente o João Sem Tempo das terras de Lavre, lá no “Levantados do Chão” de Saramago, através daquela frase linda do autor do “Memorial do Convento” que diz assim.... “e o sol com tanta pressa de aparecer e tão pouca de se apagar; como os homens....”

Esta frase comovo-me. E é então que ligo todo o meu trabalho de hoje, o soneto “ETERNIDADE” que fiz de manhã, o mesmo título de uma poetisa amiga publicado no jornal da terra, o livro “A Velhice do Padre Eterno” do Junqueiro, o melro a chatear o velho Padre, tudo isto me faz vibrar.... é a vida da vida, olho para ela e faço-lhe sinal para que continuemos nesta harmonia de interesses recíprocos.

Nunca direi à vida que não gosto dela porque haverá sempre à minha beira um poeta para conversar, um poema para ler ou um soneto para escrever.

A literatura tem-me proporcionado momentos de felicidade. Se leio a BALADA da NEVE do Gil, choro de emoção e talvez de saudade, dos duros e agrestes invernos da minha aldeia, enquanto recordo os pinheiros que ladeiam o caminho, a gemer na cinzenta manhã de invernia, contra o vento frio que vem da serra.

E é aqui que recordo Torga, o homem das fragas e caçador de perdizes e o poeta valente. E é nesta entrega à arte da escrita que me sinto tão poeta como ele, ilusoriamente apenas, porque Torga é de outra galáxia. Mas concordo quando ele diz, “quando mais percorro o país, mais me convenço de que ainda são os poetas que melhor sabem exprimir nossa realidade telúrica e humana...”

Mas volto à minha frase inicial e recordo o posto da GNR em Montemor na obra de Saramago, onde os guardas interrogam os ceifeiros acerca das suas reivindicações de melhores condições de vida, da redução do horário de trabalho, homens que procuram não se vergar perante a força bruta da autoridade, homens sem honra estes a tentar retirá-la a quem a possui.

E vem-me a memória tudo quanto de belo tenho lido na literatura portuguesa em defesa dos trabalhadores.

Que é como quem diz, em defesa da honradez.

Como eu a defendo.

João Brito Sousa

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