A VIDA DOS POLÍTICOS
seria muito mais calma se fosse possível omitir o passado. A nossa seria mais saudável se houvesse uma disposição constitucional que os proibisse de dizer disparates. Sobretudo quando invocam os nossos filhos. Como nem uma nem outra das hipóteses é possível, resta-nos cuidar das crianças e não deixar aos políticos essa responsabilidade.
Afirmar que o Estado não deve fazer obras enquanto houver crianças com fome é tão demagógico como dizer que o Estado faz obras para tirar as crianças da fome. E, no entanto, é isto que de forma tão improvável liga Durão Barroso a Mário Lino. Há ainda outra coisa que os liga: as obras fazem-se e continuarão a fazer-se, mas sem encher o estômago de muitas crianças.
Antes de se exilar em Bruxelas o ex-primeiro-ministro Durão Barroso deixou muita obra decidida, incluindo a localização do aeroporto na Ota. Mas deixou por resolver os problemas sociais que, em campanha eleitoral, invocou para a não fazer. Chamam a isto pragmatismo. Afirmar na oposição o que é fácil, fazer no poder o que é necessário, mesmo que um seja o contrário do outro. A política está cheia de casos destes. Há mesmo quem diga que na política moderna só se chega ao poder assim.
O ministro Mário Lino acaba de acrescentar um cunho pessoal a esta tese: só se pode exercer o poder assim. Ou seja, com demagogia. As obras públicas não resolvem os problemas sociais, nem devem deixar de ser feitas por causa dos problemas sociais. Desde Cavaco Silva que o país está em obras, mas continua a empobrecer. No entanto, o país estaria mais pobre, se algumas obras não fossem feitas.
O PSD tem razão quando diz que há obras a mais. Mas perde-a quando invoca a pobreza para não as concretizar, se ganhar as eleições do próximo ano. Há obras a mais porque o país não precisa delas, nem tem dinheiro para as pagar. Basta andar pelo país para perceber o desperdício de dinheiros públicos feito por governos e câmaras. Auto-estradas quase desertas, rotundas por todo o lado, centros de congressos e polidesportivos às moscas, pontes e viadutos a esmo, num caos a que alguns iluminados chamam modernidade.
Na sua concepção dirigista o ministro Mário Lino sintetizou a ideologia que justifica tamanha loucura: “ Estamos a pôr o PIB a crescer”. O “estamos” é o Governo, é claro. O instrumento é a obra pública, como sempre. Infelizmente, os números mostram que Portugal é, em temos relativos, um dos países da Europa com maior investimento público, mas com menor crescimento e maiores índices de pobreza.
A ilusão de que a obra pública faz crescer a economia de forma sustentada só tem paralelo na ideia de que é preciso cortar nas obras para acudir aos pobres. Entre ambas a única coisa comum e barata é a demagogia.
publicação de
JBS
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