ALFREDO SHOP; THE LAST,
texto retirado de apcgorjeios.gblogspot.com
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A asae atacou e a última "venda" dos Gorjões fechou as portas. A asae atacou a última "venda" de mercearias e taberna mas sobretudo atacou o sítio fechando o único local aberto ao público e prestador de um serviço social necessário ao povo deste pequeno lugarejo do barrocal à beira da serra. E atacou a honorabilidade do Alfredo, seu impoluto proprietário com oitenta e dois anos e desde os quinze a trabalhar no ramo com elevada estima e amizade de toda a população local.
Que sabem os asaes, polícias burocratas da lei, de história de um lugar perdido no campo e de um Homem que dedicou a vida inteira a ter à venda, todos os dias, o necessário indispensável para as mulheres fazerem a marmita do almoço diário do dia de trabalho dos homens. Que sabem os asaes, homens-robot do tempo sem alma, dos tempos antigos quando a única vida social e convívio das gentes locais era feita, aos domingos apenas, à volta duma mesa e uma rodada de copos cheios ou um baralho de cartas.
Que sabem os asaes recém-nascidos sobre vender para "apontar" fornecendo um serviço de crédito baseado na confiança e integridade entre partes. Que sabem, afinal, os homúnculos asae, sobre bons e maus produtos ou sobre limpeza e higiéne comparados com o Alfredo que toda a vida comprou e vendeu sem uma única reclamação, briga ou inimizade com alguém. A "venda" do Alfredo não exibia o brilho ofuscante novo-rico do inox, nem as paredes e chão forradas dos lustrosos azulejos que bastam e enganam os olhos.
Não, na "venda" do Alfredo havia e sentia-se o asseio das mãos limpas cheias de nobreza humilde, metia-se na mesma bolsa batatas e pão com a mesma dignidade com que se distribuia bondade, honestidade e amizade a todos. Na "venda" do Alfredo todos tinham, à mão, um amigo há longo tempo, face à brutalidade asae vamos tê-lo no coração.
publicação de
joão brito sousa
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