sábado, 25 de outubro de 2008

IMPRENSA/ EXPRESSO


MANOBRAS de OUTONO
from Washington, DIOGO TARRETA

Mais inútil ainda, e esse altamente lesivo do interesse público, é o contrato com a Liscont para o terminal de contentores de Alcântara - a última asneira do ministro Mário Lino

1 Há várias lições possíveis a retirar da novela Manuela Ferreira Leite-Santana Lopes, a propósito da fatal candidatura do ‘menino guerreiro’ à Câmara de Lisboa. Só que em nenhuma delas Manuela Ferreira Leite sai bem na fotografia e eu lamento, porque, em acordo ou em desacordo, sempre achei que ela fazia parte do número restrito dos que estão na política para servir e não para se servir dela

Mas acontece, primeiro que tudo, que eu não tenho dúvida de que ela tem por Santana Lopes a mesma consideração política que eu tenho - isto é, nenhuma. As razões pelas quais Ferreira Leite aceitou a presidência do PSD, como antes aceitara funções governativas, são exactamente as opostas que levam Santana Lopes a habitar eternamente na política. Por isso, ambos se confrontaram há poucos meses e toda a gente percebeu que o confronto era, não só entre duas formas radicalmente opostas de fazer política, mas, sobretudo, entre duas atitudes éticas radicalmente opostas de estar na política. Além disso, que já não é pouco, Ferreira Leite não ignora o desastre que Santana protagonizou em Lisboa, sabe o estado de ruína em que ele deixou as finanças de Lisboa - como já antes deixara as da Figueira da Foz e as do próprio país.

Ela sabe que o ‘menino guerreiro’ serve, às vezes, para ganhar eleições ou animar debates, mas não serve para ser levado a sério e governar nem que seja uma paróquia de Trás-os-Montes. Mas aceitou a candidatura de Santana, primeiro porque isso lhe resolve o problema de se ver livre dele, bem à maneira sibilina de Durão Barroso: se ganhar Lisboa, a vitória poderá também ser reivindicada por ela; se perder, é de esperar que ele entre em pousio mais uns tempos, embora necessariamente curtos, como todos sabemos. Segundo, porque isso lhe permite dizer que não exclui nenhum adversário interno dos ‘combates’ e das ‘batalhas’ - para usar essa linguagem tão cara aos ‘meninos guerreiros’ do PSD, tipo Valentim, Jardim, Santana e afins. Se as razões são más, a fórmula escolhida é ainda pior. Manuela concertou tudo com Santana, mas, na hora de dar a cara por uma decisão injustificável, fez avançar a Distrital de Lisboa, atrás da qual se escuda para poder dizer que foi uma escolha ‘democrática’ das ‘bases’ do partido.
Vira o disco e toca o mesmo: desta forma da fazer política estamos fartos.

2 Tirando as pertinentes questões relativas às programadas obras públicas, não consegui perceber qual era a posição do PSD relativamente à crise financeira e económica nem as razões pelas quais votarão contra o Orçamento do Estado. Queriam mais despesa pública, menos despesa? Mais impostos, menos impostos? Mais défice, menos défice? Ou bastaria que o Governo tivesse previsto 0,1% de taxa de crescimento em vez de 0,6%, e já votariam a favor todos contentes?

Também não percebi bem quem falava em nome do partido e qual era o discurso oficial. O líder parlamentar dizia uma coisa, o ‘ministro-sombra’ da Economia dizia outra; as eminências-pardas em matéria económica e os empresários próximos deixaram entender uma coisa e a presidente veio concluir outra. Até apareceu, lá pelo meio e fugazmente, Pedro Passos Coelho - a reserva ‘juvenil e regeneradora’ do partido - que veio lançar umas ‘bocas’ que confesso não fixei bem, tão atento que estava a ver se ele se atrevia a voltar a defender agora a privatização da Caixa Geral de Depósitos e tudo o mais que o seu pensamento ultraliberal gostaria de privatizar, há uns meses (em vão: não se atreveu...). Percebi que o PP vota contra o Orçamento porque quer defender ‘as famílias’ e os ‘pensionistas’ e ainda não sabe, ou prefere não saber, que estamos falidos e connosco o resto do planeta. Percebi que o PCP vota contra, não só porque vota sempre contra, mas também porque acha que se perde aqui uma grande oportunidade de regressar ao gonçalvismo e ao 11 de Março e nacionalizar a banca.

E percebi que o BE vota contra porque quer reactivar o «slogan» de ‘os ricos que paguem a crise’ e aproveitar para subir impostos. Mas não percebi, sinceramente não percebi, porque é que o PSD vota contra. ˜

3 Escapa-me a competência para saber se o Orçamento é bom ou mau. Sei que a crise é global e profunda, atingindo as raízes do sistema. E também sei que, mesmo antes dela, a situação do país era conhecida de todos: um Estado que gastava, ano após ano, mais do que tinha, endividando-se para o futuro; uma competitividade na cauda da Europa; uma produtividade própria de mandriões; uma Educação sistematicamente reformada e falhada; uma Justiça de anedota; uns Sindicatos da época da Revolução Industrial; e um pequeno patronato - coração da economia - cheio de ‘chicos espertos’, especialistas em fugir ao Fisco e malbaratar ajudas europeias. Não sei, mas talvez alguém me consiga explicar, como é que, com este panorama se poderia fazer um ‘bom orçamento’: sem inflação e com aumentos salariais decentes, sem défice e com aumento de despesa pública para relançar o crescimento, sem aumento de impostos e com aumento das pensões e dos subsídios de desemprego.

Palavra de honra que tenho admiração pelo ministro Teixeira dos Santos: vários outros teriam fugido no lugar dele. Em situações de muito menor aperto, já os vi ensaiarem a fuga em frente ou para fora, fazerem batota nas contas públicas, prometerem o que sabiam não poder dar, fingirem uma coisa e fazerem outra. Ele, não: o que prometeu, fez. Prometeu reduzir o défice das contas públicas e fê-lo - e a isso devemos não estar agora em pânico, mas apenas em perigo, como todos os outros. Não se precipitou com a crise financeira, nem correu a fazer de Gordon Brown, como defendeu Manuel Alegre, porque, de facto, ainda não foi preciso acorrer a banco algum - e a lei que fez para prevenir tal eventualidade é justa, adequada e defende o interesse público.

Enquanto toda a oposição esperneava na ânsia de dizer alguma coisa e conseguir culpá-lo pelo estoiro do «subprime» nos Estados Unidos, ele manteve a calma e mostrou ser o único que estava a pensar no futuro e tinha um plano para enfrentar a crise. E, no meio do reboliço, teve ainda de apresentar o Orçamento do Estado mais difícil de sempre, onde todas as previsões são falíveis, desde o preço do petróleo à dimensão da crise nos parceiros que mais de perto nos tocam. Mas basta escutar as críticas da oposição, todas contraditórias e todas atiradas para a frente sem nenhum risco nem preocupação de coerência, para se perceber que, se há um homem ao leme, é Teixeira dos Santos. E isso é justo que se diga.

4 No pólo oposto, mais parecendo um menino divertido com os seus brinquedos sem perceber que a casa está a arder, temos Mário Lino, o infatigável ministro das Obras inúteis. Encontrei-o há dias num restaurante a almoçar, e ele, simpático como sempre, confessou-me que se tem “fartado de rir” com as “asneiras” que eu digo, em particular aquela de que basta olhar para o céu, no aeroporto da Portela, para perceber que ele não está saturado, ao contrario do que juram. De facto, eu acho que a história da saturação do Aeroporto da Portela é a mentira da década, destinada a vender-nos um aeroporto novo, inútil. Assim como acho inútil e ruinoso o TGV para Madrid ou para Vigo ou as novas auto-estradas em concurso. Mais inútil ainda, e esse altamente lesivo do interesse público, é o contrato com a Liscont para o terminal de contentores de Alcântara - a última asneira do ministro Mário Lino e objecto do último texto aqui. Asneira por asneira, a diferença é que as minhas, a serem reais, são inofensivas, e as dele não. De Janeiro a Julho, eu trabalho exclusivamente para proporcionar ao Estado o dinheiro de que ele necessita para fazer obras públicas. E achar que parte significativa delas são inúteis e se destinam apenas a alimentar uma clientela empresarial que não vive sem o Estado, não me dá vontade nenhuma de rir. Ainda se isto fosse a feijões...não concordo com ele em relação a PEDRO SANTANA LOPES

Publicação de
João brito Sousa

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