sexta-feira, 24 de outubro de 2008

OUTROS TEMPOS


À D. JÚLIA QUE SÓ OUVI FALAR.

Gostava de experimentar D. Júlia, e lá foram e parece que a coisa deu certo. Conversa de estudantes os senhores calculam. A central estudantil nesse tempo de juventude era no Sacramento à Lapa, onde curtimos a nossa juventude o melhor que sabíamos e podíamos.

Vínhamos de diversas camadas sociais, éramos estudantes e trabalhadores estudantes. Às vezes chateávamo-nos e foi nessa hospedaria que vi o Arnaldo Silva ir abaixo com o sete de trunfos nas unhas.. O jogo abria e o Vieguitas dava de imediato um murro na mesa e aquilo calava-se tudo. O trabalho na zona era bem remunerado.

Às vezes aparecia o Pitrónio e armava-se em preso político, entregava-nos uns paus de vassoura que faziam de espingarda, a hospedagem transformava-se numa cela, o Diogo fazia de barbeiro, o João Bruto era o chefe dos guardas, isto tudo antes dos sete escudos e cinquenta e antes do papagaio

Já chega dizia o Pitrónio.

Era nessa altura que chegava o Feliciano que trazia a notícia que o Agostinho tinha ganho a etapa da volta a França. À noite todos à Estrela, O Jack ganhou a etapa. Afinal era mentira mas podia ser perfeitamente verdade. O Jack batia-se com o Poulidor, porque o Mercks era doutra galáxia.

Cá dê ele?

Foi a da Júlia disse o Del Sol. O Viegas está ao telefone para ti. Não atendo, diz isso a ele. VOILÁ. As tantas ele chegava, estou derreado, dizia. Tinha havido coisa em grande. Como é que fizeste? Disse apenas que gostava de experimentar. E foste? Eu vou sempre, disse ele.

Uma vez dissemos, vamos ao Algarve de avião. Eu vou, disse ele, ao mesmo tempo que olhava para a extremidade dos braços agora levantados. Viu que lhe faltava o relógio. É amanhã, sim... então não posso marquei com o Amaral ir ao Gordo, vamos comer umas sandes...

Às vezes o Heldinha vinha connosco e queria conduzir a carrinha. Almoçávamos no Canal Caveira. Noutros tempos passávamos pelo Carregueiro. O caminho de ferro ficava ao lado - uma sandes de cabrito dizia o Heldinha...

Meu caro amigo, afilhado e compadre, amizade continua intacta.

Talvez O OBAMA.

JBS

1 comentário:

  1. Saudade!

    Rua do Sacramento à Lapa, 1967, 8 e 9. Guerra feita, duas preocupações: acabar o curso e casar! Fazer os exames das "cadeiras" em falta, ao abrigo da lei militar, com a voracidade de quem quer, precisa, arrumar a vida. É que as "madrinhas de guerra" e a namorada, mais ou menos apalavrada, esperavam com ansiedade uma definição da situação.
    Camaradagem! Amizade da pura se consolidou naquele tempo e que até hoje aí está viva, indestrutível.
    Vida irreverente, dos vinte e tantos, misto de profissionais responsáveis (para os que já labutavam no mercado de trabalho) e de alvoreamento juvenil. Fados! Solar e Guitarra da Madragoa. Duas casas típicas que perduram na memória, revisitadas montes de vezes, apenas com uma triste saudade: César Morgado, que partiu intempestivamente.

    Lerpa! Sessões nocturnas. O gozo do jogo! O infernal desassossego de quem queria ganhar ao mais afortunado do grupo - o Viegas - e não conseguia. Quando eventualmente acontecia fazer "lerpá-lo", o prédio vinha "a baixo" com descontrolado alarido e, na manhã seguinte, a nossa querida hospedeira, a D. Mariana, "dava-me o recado", enquanto tomava o pequeno almoço, talvez por eu ter ares do "mais atilado".

    Bons tempos! De grata memória! Foi bom revive-los!

    Para continuar....

    arnaldo silva
    felizmente reformado

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