Escrito por Ernest Hemingway
O Sol Também se Levanta retrata o cotidiano de um grupo de expatriados boêmios, ingleses e norte-americanos, após o término da Primeira Guerra Mundial. Os cenários escolhidos para o romance foram as cidades de Paris e Pamplona, durante o Festival de San Firmin.O norte-americano Jacob Barnes é o protagonista e narrador da história. Conhecido como Jake, ele trabalha como repórter em Paris. Jake volta impotente da guerra e acaba se apaixonando por Lady Brett Ashley, mulher de personalidade fútil, que trata os homens como simples objeto e envolve-se com vários deles, apesar de ser comprometida.Para O Sol Também se Levanta Hemingway criou tipos humanos complexos, representando assim uma geração contaminada pela ironia e pelo vazio diante da vida, com seus valores morais destruídos pela guerra e irremediavelmente perdidos. Temas como a solidão e a morte, os preferidos do escritor, são explorados de forma brilhante.Escrito originalmente em 1926 e publicado em 1927, O Sol Também se Levanta foi o primeiro romance de Ernest Hemingway, sendo considerado, por muitos, como sua obra mais refinada em termos de técnica literária.
Os homens, no alto do muro, inclinaram-se ergueram a grade do corral. Depois ergueram a porta da jaula. Curvei-me sobre o muro e esforcei-me por enxergar lá dentro. Mas estava tudo escuro. Alguém bateu na grade com uma barra de ferro. No interior, algo pareceu explodir. O touro batia na madeira, à direita e à esquerda, com seus chifres, e fazia um grande ruído.Divisei então um focinho negro, a sombra dos chifres e depois ouvi patadas na madeira da caixa oca. O touro precipitou-se no corral e parou, com as patas dianteiras deslizando na palha. Ergueu a cabeça, a grande corcova de músculos do pescoço inchada, retesada, a musculatura do corpo fremente, enquanto olhava a multidão sobre os muros de pedra. Os dois bois retrocederam e se encostaram à parede, de cabeça baixa, vigiando o touro.
O touro os viu e arremeteu. Atrás de uma das caixas um homem pôs-se a gritar e a bater com o chapéu de encontro às tábuas. O touro, deixando os bois, voltou-se e arremeteu para o ponto onde estava o homem, tentando atingi-lo atrás das tábuas, com meia dúzia de golpes rápidos e fustigantes com o chifre direito.
- Meu Deus! Como é belo - exclamou Brett.Estávamos bem acima dele.- Vejam como sabe servir-se bem dos chifres - disse eu. - Conhece a sua direita e a sua esquerda, como um jogador de boxe.- Pois não é?- Olhe!- Ele vai muito depressa.- Espera. Vai chegar outro dentro de um minuto.
Haviam trazido outra jaula para a entrada. Numa extremidade, por trás de um abrigo de tábuas, um homem atraiu o touro; e, enquanto este olhava para o outro lado, levantaram a grade e um segundo touro entrou no corral.
Fez uma arremetida direta contra os bois, e os dois homens, saindo de trás das tábuas, gritaram, para afastá-lo. O touro, contudo, não se desviou e os homens gritavam: "Ha, ha, ha, toro", e agitavam os braços. dois bois puseram-se de lado, para resistir ao choque, e o touro investiu contra um deles.
- Não olhe - disse eu a Brett, que olhava, fascinada.- Fabuloso! - exclamei. - Você não se impressiona- Eu o vi - disse ela. -Vi-o mudar do chifre esquerdo para o direito.- Formidável!
O boi estava por terra, com o pescoço estendido, a cabeça retorcida, da maneira como havia caído. Subitamente, o touro deixou-o, para correr em direção ao outro que permanecera ao fundo, balançando a cabeça, olhando o que se passava. Correu, desajeitado, e o touro o alcançou, feriu-o ligeiramente no flanco e olhou a multidão, sobre os muros, erguendo a corcova de músculos. O boi aproximou-se dele como se quisesse empurrá-lo com o focinho e o touro investiu ao acaso. Em seguida, empurrou o boi e ambos se dirigiram, trotando, para o outro.
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