terça-feira, 19 de agosto de 2008

O PROF. LEITÃO; UM GRANDE HOMEM

(O FLORIVAL, O BENTO E O MANUEL BOTELHO QUE ESTÃO AÍ FORAM SEUS ALUNOS.. PARECE-ME)

FIGURAS NEXENSES
por joão brito sousa

O PROFESSOR. LEITÃO E OUTOS

O Professor Leitão era o professor primário de SANTA BÁRBARA DE NEXE, aí por volta dos anos cinquenta. Naquele tempo, um professor tinha aulas o dia inteiro e tinha as quatro classes e um bocado de trabalho com aquilo, porque tinha que leccionar leitura e divisão de orações, aritmética (com aquele problema das torneiras, muito complicado, que perguntava assim: Em quantas horas encheu o tanque?)

A coisa não era fácil pois na quarta classe desse tempo não se ensinava a regra de três simples, era tudo raciocínio lógico. Ensinava-se também História, com os reis todos e mais as dinastias e sobretudo a revolta de 1820 entre os Miguelistas e os Liberais, que era uma matéria difícil para uma criança de dez anos perceber. Havia ainda as Ciências Naturais, onde se estudava o corpo humano, com os ventrículos e as aurículas e, ainda, os batráquios, mais não sei quê, mais não sei quanto.

A sala, que ficava ao pé da Torre da Igreja, era um armazém asseado. O professor morava ali também e a sala estava cheia de rapaziada (rapazes e raparigas) e havia um cântaro de água, com um copo para os alunos beberem. Um dia o Elias, que era um “Choninhas” e que se queixava muito dos outros ao professor, foi beber água ao cântaro. Escorregou, caiu, levou o cântaro atrás e o cântaro lá se foi... Ao ouvir tal sarrabulho, o Leitão veio e... perante tal situação, virou a cara para o lado, respirou fundo e disse: “Elias, dá cá a mão! Agora são vinte, menino Elias, ouviu?”

Nesse tempo, o grande auxiliar, do professor primário em geral e do professor Leitão em particular, era a régua que fazia milagres, como dizia o Mestre-Escola dos “Meus Amores”, do Trindade Coelho. E nisso o Professor Leitão era Mestre. Era cada dose de reguadas que a malta gritava. De tal maneira e força que quase se ouvia na venda do Amadeu. Apesar de tudo, é importante dizer que havia cooperação entre a Escola e a Família, resultando a (boa) educação do aluno do esforço das duas partes.

O melhor cliente que o professor Leitão tinha, que era simultaneamente a melhor cooperação Escola/ Família, era o António de Sousa Bárbara, o filho da Ti Ermelinda e do Ti Manuel de Sousa Farias, que mais tarde foi coveiro aí no cemitério local O António era um rapaz destemido, não tinha medo de nada, tanto dormia em casa como na rua ou dentro do forno e a mãe, a D. Ermelinda, não dava conta dele. Então, levava-o à Escola e recomendava ao Professor que lhe desse uma tareia das fortes. Só que o Professor Leitão nunca teve muita sorte com isso, porque o António fugia da Escola, fugia da Guarda Nacional Republicana, fugia de todo o lado. Uma vez quiseram metê-lo na cadeia e os Guardas não conseguiram, porque ele punha os pés à parede e daqui ninguém me tira.

O melhor aluno desse tempo era um dos filhos do Pai da Malta, o hoje Eng.º José Pinto Faria, grande aluno quer na primária, quer na Escola Comercial e Industrial, quer no IST, onde se licenciou em Engenharia. Quando eu cheguei à Escola Comercial em Faro, em 52, estava ele de saída, mas era um rapaz muito popular lá na Escola, jogava muito bem à bola, a defesa central, e nos jogos com o Liceu brilhava porque fisicamente era muito poderoso. De tal modo era assim, que chegou a campeão nacional de judo. E ainda está por aí...

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