quarta-feira, 1 de junho de 2011

ANTÓNIO LOBO ANTUNES

CRÓNICA


Se eu soubesse dizer-te o que sinto. Se pudesse abrir o peito para tu veres lá dentro, cheio de postais ilustrados, com pombinhos e fitas cor de rosa, um gato a sair de uma bota velha, um menino, mascarado de palhaço, a chorar uma única lágrima, um bambi cromado sobre o naperon, duas rolas de loiça a juntarem os bicos, andorinhas como as que tenho na varanda da casa, envernizadas, tão lindas. Se calhar já não há nada disso, como não há armários de fórmica e mobília de quarto quinane, nem azulejos que dizem Cuidado Com O Cão ou Entra Amigo A Casa é Tua, nem Alziras, nem



Lucindas, nem Custódias, como não há Vítores Manueis nem Edgares, o que o mundo mudou. O Almanaque da Sãozinha onde pára, sonetos de senhoras sensíveis nos jornais. Quando eu era pequeno deram-me um livro de poemas, com o título de Hóstia Florida, escrito por um cónego sensível, chamado Monsenhor Moreira das Neves, que me lembro de ver em casa de uma tia-avó minha, bebendo chás virtuosos, gordo, cheio de opiniões e bondade, muito dado às torradas. Foi a minha primeira grande influência literária e, na minha opinião, o título Hóstia Florida era um achado de génio. Lembro-me do Monsenhor Moreira das Neves declarar, enquanto a minha tia-avó me mostrava a obra com respeito


- Vende-se como pão


e de me surpreender a imagem, vinda de um espírito tão delicado e fino, a apanhar as migalhas da batina com o indicador molhado em cuspo, sob a fotografia emoldurada do doutor Salazar a apertar a mão ao senhor Cardeal Patriarca, unidos num sorriso afectuoso e digno porque se vivia numa época de respeito, avessa ao casamento civil e ao comunismo ateu, duas expressões que não percebia o que significavam mas que, a calcular pela opinião das pessoas responsáveis, eram coisas perigosas e desumanas, que podiam ser evitadas pela leitura da Vida Exemplar De São Luís Gonzaga, acompanhada da história de um outro menino francês que ofereceu a existência em troca da conversão do padrinho, o qual se persignou, ajoelhado, diante da urna e, a partir desse momento, se tornou exemplar e esmoler, outra expressão difícil, dedicado aos leprosos que no princípio do século, ou seja mil e novecentos, mil novecentos e tal, enxameavam Paris, vivendo nas grutas que rodeiam a torre Eiffel e descendo os Campos Elísios de gatas e aos guinchos, cobertos de percevejos e trapos. Ao perguntar ao Monsenhor Moreira das Neves acerca das grutas que envolvem a torre respondeu, sempre a catar migalhas


- De certeza que há mas talvez não sejam assim tantas, para aí umas trinta


e aí temos o motivo de eu não gostar de Paris: imagine-se um leproso atrás de nós a pedir esmola, incapaz de apanhar migalhas porque não tem dedos e refugiando-se depois nas savanas dos Campos Elísios, onde o padrinho exemplar e esmoler lhe oferecia bavaroises e canards à l'orange, que são o equivalente de pão da véspera para nós, a fim de o aliviar das torturas da fome, acrescentado do folheto Preparação Para a Primeira Comunhão, destinado ao ensinamento salutar das almas transviadas. O folheto Preparação Para a Primeira Comunhão ofereceu-mo o senhor Cónego, repleto de ordens úteis: não comer nem beber depois da meia noite para não misturar Jesus com o rosbife, vestir a melhor roupa mas com mangas compridas dado que Deus odeia a carne ao léu, receber a hóstia sem lhe tocar com os dentes


(muita atenção a este ponto)


não a descolar do céu da boca com o mindinho, consentindo apenas que a saliva


(o termo cuspo não é da estima divina)


ajude Jesus a deslizar sem riscos até um estômago devidamente limpo


(estou a citar)


templo interior adequado à recepção da Graça. Para onde é que a Graça ia depois a Preparação não falava, mas presumia-se que não se puxava o autoclismo, no dia seguinte, enviando-a para o Tejo através dos esgotos da Cruz Quebrada: Jesus não era pessoa para trambulhar com o lixo e decerto que se elevava do estômago até à alma através de misteriosos tubos que possuímos cá dentro, destinados ao trajecto barriga-céu sem paragens intermediárias. À questão


- Onde é que eu tenho a alma?


o senhor Cónego elucidava-me designando o tecto com o queixo, para além do tecto o vizinho de cima que batia na mulher, estremecendo o lustre e, para além do vizinho de cima, que trabalhava de contrabandista, ajudando as hóstias a ultrapassarem a fronteira do telhado, a alma à espera de Jesus numa impaciência gulosa, unindo-se num abraço casto


(Não penses em porcarias, miúdo eu que não pensava em porcarias, me maravilhava só)


que nos colocava mais perto de uma eternidade de bem-aventuranças


(O que são bem-aventuranças? Tanta pergunta cansa-me)


cujo significado eu descobriria mais tarde


(Hás-de descobrir isso mais tarde)


quando a experiência da vida me ensinasse


(A experiência da vida há-de ensinar-te, garoto)


a distinguir subtilezas que a minha pouca idade me impedia de visionar


(Visionar quer dizer ver, pateta)


com a clareza que o Espírito Santo não deixa de conferir às pessoas honestas, característica que a avaliar pela generosidade das torradas da minha tia-avó e do seu espírito naturalmente bondoso


(naturalmente bondoso julgo que relacionado com a qualidade do chá Este chá é um primor, minha senhora)


eu herdaria certamente. É possível que tenha herdado o espírito naturalmente bondoso


(item número dezanove do seu testamento: ao meu sobrinho-neto lego o meu espírito naturalmente bondoso)


dado que nem um tostão abichei com a sua morte. Os outros apropincuaram-se com o dinheiro e os tarecos, mas o espírito bondoso já cá canta, só que até hoje não me rendeu fosse o que fosse, a não ser chamares-me


-Parvo


a cada passo e eu, humilde, a escutar-te, pensando se soubesse dizer-te o que sinto, se pudesse abrir o peito para tu veres lá dentro, e os postais ilustrados, os pombinhos, os bambis, os naperons, as rolas, a tralha toda com que te afoguei ao princípio da crónica, tu, aproveitando uma pausa, a comunicares-me


-Não esperes por mim para jantar


pondo, à pressa, mais perfume, visto que a buzina de um automóvel te chama da rua, e o Jorge é suficientemente impulsivo para nos entrar casa dentro.



recolha de

JBS

OPINIÃO

CLUBE DOS PENSADORES

COM JOAQUIM JORGE, RUI MOREIRA E MANUEL SERRÃO

O que vai a seguir é retirado do JN

O também comentador político e desportivo, Dr. RM, foi um dos convidados da tertúlia mensal do Clube dos Pensadores, que decorreu terça-feira à noite em Vila Nova de Gaia, tal como o empresário Manuel Serrão, onde se debateu a temática "Futebol, Política e Norte".

“Rui Moreira considera que os "dragões" já são mais conhecidos que o Vinho do Porto no Mundo

Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto (ACP), considera que o F. C. Porto tem hoje em dia maior reconhecimento internacional que o Vinho do Porto e que é um exemplo da inspiração que falta ao País.

Adeptos portistas assumidos, ambos concordaram com a ideia de que os sucessos do clube presidido por Pinto da Costa são um exemplo de "competência e inspiração".

Para Rui Moreira, "a dimensão regional do F. C. Porto não foi um limite para o seu crescimento e é uma boa base de apoio de uma instituição que dá provas de saber como se expande uma marca, pois sem ter índole nacional conseguiu conquistar índole europeia".

Manuel Serrão, por sua vez, estabeleceu comparações entre as temáticas da noite: "Na política, como antes se dizia do futebol, o jogo é sujo, está viciado e resolve-se nas secretarias, ainda por cima europeias".

Contrastou que, "ao contrário dessa batotice" se vê no futebol equipas como o F. C. Porto e o Sporting de Braga, que "espantaram o Mundo há dias, em Dublin, pela forma competente como chegaram à final e pela simpatia, civismo, alegria e cordialidade dos seus adeptos".


COMENTÁRIO.

As afirmações do Dr. Rui Moreira, que respeito, não têm o meu aval porque o futebol joga-se num terreno pantanoso e não tem possibilidades de inspirar nada quanto mais o País,

O futebol é uma prática desportiva que, na melhor das hipóteses, tem a possibilidade de formar o homem e não o faz. O que se vê nos campos desportivos é lamentável, no que toca ao comportamento de jogadores e público. Ainda no último jogo de andebol FC Porto /SL Benfica. meias finais da Taça de Portugal, em Tavira, o que se viu foi os jogadores do FC Porto, recusarem cumprimentar os jogadores adversários, antes de o jogo se iniciar, como é normal. È isto que faz do FC Porto um grande clube ? E nos jogos de futebol entre as duas equipas, os jogadores do FC Porto recusaram-se a apertar a mão dos putos do Benfica, quando da apresentação das equipas.

Estes assuntos é que devem ser atacados.

O que foi dito no programa do Prof. Joaquim Jorge, em minha opinião, foram banalidades, que poderiam ser ditas por qualquer operário não especializado. E os convidados do Professor Joaquim Jorge, não marcaram a diferença, como tinham a obrigação de o fazer.. O comentário do Dr. RM acerca do Presidente do SL Benfica não é de desportista, a não ser que tenha receio que o seu cube seja analisado.

A expansão de uma marca em futebol não é rigorosa.

Por outro lado o Professor Joaquim Jorge, como moderador do programa, tinha a obrigação de esclarecer aquela senhora que perguntou porque motivo metade da cidade do Porto não é adepta do clube.

O papel de um professor é formar. Apenas isso, que não aconteceu.

E por favor não apague os comentários. Até porque diz que no seu programa todos têm voz.

O que pelos vistos não é verdade.

Cump.

João Brito Sousa